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O termo Depressão tem diversos significados diferentes, por exemplo em nosso quotidiano costumamos dizer: "Hoje eu acordei deprimido", "Este problema todo me deixou deprimido", "Estou deprimido porque briguei com minha mulher" como sinónimo de tristeza ou "fossa". Não é desse tipo de "depressão", reacção normal dos problemas do dia a dia, que estamos falando, o que nos interessa é o significado da Depressão como DOENÇA.
Neste sentido, Depressão refere-se a um estado anormal em que o indivíduo experimenta, importante sofrimento psicológico, associado a prejuízos em sua vida social e familiar. É uma doença muito frequente no Brasil; são estimados a cada ano o aparecimento de 3 milhões de novos casos, isto é, 3 milhões de pessoas "ficam" deprimidas durante o período de um ano.
É uma doença há muito tempo conhecida e para qual actualmente existem tratamentos adequados sendo fundamental saber reconhecê-la.
O paciente, durante a depressão, tem dificuldade de planejar seu futuro, que frequentemente lhe parece sombrio e sem esperança. É comum ocorrer piora dos sintomas pela manhã, principalmente apatia e ansiedade. O indivíduo, ao acordar, não sente vontade de levantar-se ou cuidar da higiene pessoal, tomar banho ou barbear-se, podendo ocorrer discreta melhora no decorrer do dia. Ideias de morte e a sensação de que assim não vale a pena continuar vivendo são muito comuns e nos casos mais graves também são frequentes os pensamentos e os planos suicidas. O indivíduo imagina-se um peso para seus familiares, às vezes tendo convicções de que falhou em sua vida e que fez tudo mal feito mesmo quando seus familiares e amigos alegam que isso não corresponde à realidade.
A palavra prazer é muito importante no diagnóstico da Depressão, podendo ser a diminuição da capacidade de sentir prazer e gosto pelas coisas, o sintoma mais importante do quadro.
Não é incomum o paciente deprimido imaginar-se como portador de doenças graves, como Câncer ou AIDS procurando vários médicos, fazendo diversos exames, com resultados sempre normais e mesmo assim não se convencendo e buscando novas avaliações médicas.
Causas:São frequentes as dificuldades de atenção e memória em suas actividades, o que pode repercutir em uma diminuição do desempenho nas tarefas quotidianas ou mesmo profissionais. Tem dificuldade principalmente para guardar fatos novos: percebe que, lendo um livro, necessita voltar várias vezes a parágrafos anteriores, por não se lembrar mais do que leu. Outras vezes pode ficar longo tempo em frente à televisão e quando perguntado sobre algum detalhe percebe-se que de fato não prestava atenção.
A intensidade dos sintomas pode variar bastante de paciente para paciente, desde quadros leves, com pequeno prejuízo quotidiano, até quadros depressivos graves, com alterações importantes na vida do paciente, como ter a certeza de que seu coração parou de bater ou que seus órgãos desapareceram ou pararam de funcionar, perda importante de peso e até tentativas de suicídio. As características quase sempre presentes são a tristeza, dificuldade de sentir (ou diminuição do) prazer, desesperança e sensação de desamparo.
A Fase Depressiva conhecida como Melancolia, Depressão Endógena, Depressão Orgânica ou Bioquímica, é uma das doenças mais pesquisadas nos últimos trinta anos, conseguindo-se grandes avanços na eficácia do seu tratamento.
São diversos os factores que se associam ao surgimento de uma Fase Depressiva. Existe forte evidência de que factores genéticos são importantes.
O indivíduo apresentaria uma predisposição hereditária para desenvolver a doença, como hoje vários estudos genéticos apontam. É, de fato, frequente o registro de pacientes cujos familiares anteriormente tiveram Depressão, ou que, após o início do tratamento, outros membros da família reconheçam os mesmos sintomas e procurem o psiquiatra.
Vários estudos identificam o surgimento da depressão através de alterações dos neurotransmissores cerebrais, ou seja, substâncias químicas cerebrais. Estas substâncias encontram-se alteradas em determinados locais do cérebro durante uma fase depressiva.
Além de factores orgânicos, factores biológicos, culturais, interpessoais, económicos e situacionais podem associar-se ao início de uma Fase Depressiva. Isto significa que além do início de uma Depressão se associar a outras doenças, também associa-se a situações difíceis, como problemas económicos, situações de desemprego ou rompimento de relacionamentos afectivos (separação do marido ou esposa).
Alguns pacientes atribuem sua depressão a perdas económicas ou pessoais. No entanto, as próprias famílias afirmam não terem sido tão grandes as perdas, como se queixa o paciente, e muitas vezes estas já foram recuperadas. Nestes casos, os argumentos e a insistência familiar não são suficientes e o paciente pode apresentar a convicção de que caminha para a miséria total.
A depressão é frequente?A Depressão, como doença, já é conhecida e suficientemente definida há muitos séculos e em todas as culturas e países. Desta forma, não se pode jamais tomá-la por uma "Doença Moderna" ou "Doença das Grandes Cidades".
Sendo uma doença orgânica (do corpo), uma vez instalada segue seu curso próprio; independe para o seu tratamento da tentativa de modificações de factores externos por parte do paciente ou de seus familiares.
Nos Estados Unidos, onde são mais frequentes os estudos populacionais de distúrbios psiquiátricos, nota-se uma PREVALÊNCIA (frequência) de 4,4% para Fases Depressivas. Isto significa que durante a vida de um grupo de 1000 pessoas, naquele país, 44 devem desenvolver Depressão.
Quanto à idade do surgimento da Fase Depressiva, os homens têm um pico de incidência (quando mais ocorrem Fases Depressivas) entre os 18 e 29 anos, enquanto as mulheres apresentam 2 picos distintos de incidência, o primeiro entre a segunda e terceira e o segundo entre a quinta e sexta décadas de vida.
Estes estudos, que foram realizados nos Estados Unidos, caso possam ser transpostos para o Estado de São Paulo, indicariam quase 400.000 pessoas por ano necessitando tratamento antidepressivo adequado.
DEPRESSÃO NÃO É UMA DOENÇA DA VIDA MODERNA, OU DAS GRANDES CIDADES
Diagnóstico da depressãoPara realização de qualquer diagnóstico, o médico deve ouvir as queixas que o paciente apresenta, juntamente com os fatos que ele e sua família relatam, além de pesquisar outras doenças concomitantes ou tratamentos prévios realizados. Sintomas isolados, tal como tristeza, ou insónia devem ser examinados cuidadosamente para que se evite a realização de diagnósticos imprecisos ou mesmo questionáveis. Esta é uma regra básica para manutenção da boa prática da Medicina em qualquer especialidade, sendo de vital importância na Psiquiatria, onde exames laboratoriais são de importância apenas relativa. Numa Depressão, como vimos, o paciente pode imaginar-se com doenças graves - Câncer, procurar diversos especialistas, realizar inúmeros exames que se mostram normais. Muitas pessoas confundem, tristeza com Depressão. A tristeza é um sentimento comum a todo ser humano e não deve ser confundido com uma doença, podendo ser uma reacção normal diante de situações pessoais. A tristeza é apenas um dos sintomas presentes durante uma Fase Depressiva.
NENHUM EXAME DE LABORATÓRIO, OU DE NEUROIMAGEM (TOMOGRAFIA, RESSONÂNCIA MAGNÉTICA) DÃO O DIAGNÓSTICO OU ESTÃO ALTERADOS NA DEPRESSÃO
Relação entre luto e depressãoO Luto é definido como sentimento de tristeza que ocorre como resposta à perda. O mais característico é o estado que uma pessoa apresenta após a morte de um parente próximo, inicialmente é caracterizado por "estado de choque", entorpecimento, seguindo-se de expressões de sofrimento e angústia, mais frequentemente indicados por soluços ou choro. Durante o Luto o indivíduo pode apresentar diminuição do apetite, perda de peso, dificuldade de raciocínio, dificuldade para falar ou respirar. Reacções de medo, explosões de raiva podem ocorrer.
O indivíduo, durante o Luto, frequentemente tem alterações de sono (demora muito para dormir), tende a evitar situações sociais ou de lazer, e perde seus interesses usuais.
As pessoas que atravessam um período de luto, no entanto, vão paulatinamente voltando às suas actividades normais, ao convívio com os amigos. Porém o "Luto Normal" pode ser complicado pela manifestação de uma Fase Depressiva, o que geralmente ocorre quando o Luto se prolonga por muito tempo. Nestes casos deve ser feito o tratamento para depressão.
Relação entre menopausa e depressãoA Menopausa não causa Depressão e não deve ser com ela confundida, embora quando a mulher procura seu clínico neste período, apresentando sintomas depressivos, muitas vezes recebe o diagnóstico de Menopausa. Este é um dos mais graves erros que se cometem em relação à Depressão, pois os sintomas são muito diferentes. Durante a Menopausa a mulher pode queixar-se de sensações corporais, entre elas calor e excesso de suor embora irritabilidade e ansiedade possam estar presentes. A Depressão caracteriza-se pela apatia, desânimo e falta de disposição incomuns. O que commumente acontece é uma superposição destes dois quadros nesta faixa etária.
O que é depressão pós-parto?A depressão pós-parto é a que ocorre no período do puerpério, definido cronologicamente entre o parto e os quatro meses seguintes. Uma alteração comum no pós-parto é o chamado de "blues" (ou tristeza), que tem duração de até 72 horas após o parto. É um período de transição e readaptação fisiológica, ou seja, o organismo da mulher, bem como o funcionamento de seu cérebro, se modificam durante a gravidez (principalmente alterações hormonais); após o parto estas modificações desaparecem quase imediatamente, sendo que o cérebro leva até três dias para acostumar-se com esta situação. Este quadro não necessita tratamento específico e não deve ser confundido com depressão.
A depressão puerperal (pós-parto) grave é aquela que apresenta todas as características citadas anteriormente, devendo ser instituído o tratamento o quanto antes. Na maioria dos casos, a paciente e a família, "achando" normal o estado de tristeza, e confundindo-o com uma adaptação psicológica à chegada do filho, pode atrasar o tratamento, com piora progressiva do quadro com o passar do tempo. Algumas mulheres voltam a apresentar outras fases Depressivas posteriores, sem qualquer relação com o parto. As mulheres que já haviam apresentado fases de depressão antes de engravidar tem maior risco de desenvolverem depressão puerperal.
Orientação aos familiaresA orientação da família é um dos pontos básicos no tratamento.
Às vezes os pacientes sentem-se tão desesperançados que não acreditam que algum remédio ou tratamento possa reverter seu sofrimento. Podem justificar a recusa de procurar um médico por acharem que o seu mal-estar é resultado de problemas particulares ou sociais que estão atravessando, esta recusa é sinal que algo não vai bem, caso contrário, por quê não atender a família e consultar um médico?
A família deve estar adequadamente orientada no sentido que os comportamentos do paciente são originários de uma doença, e não de uma fraqueza moral, vagabundagem, inércia ou mesmo "um momento difícil da vida". A depressão é uma doença que poderá ser completamente tratada, desde que a medicação e as orientações sejam rigorosamente seguidas. Existem ocasiões em que os pacientes, por estarem deprimidos com intenso pessimismo, negam-se a aceitar qualquer explicação a respeito das suas condições e sintomas e se mostram contrários às orientações médicas, voltando a repetir que esse é um problema de sua vida, ou de que não há solução para o seu mal. É muito importante o papel da família, que deverá manter firme sua atitude diante do tratamento porém compreensiva, evitando atitudes de desespero ou raiva. Não se deve tentar atitudes paliativas, não há viagens, restaurantes, roupas novas, vitaminas que possam curar uma doença que necessita de tratamento médico específico. Os familiares devem entender que, embora muito desejem ajudar, não depende deles a melhora do paciente.
DEPRESSÃO NÃO É PREGUIÇA, FALTA DE CARÁTER, OU FALTA DE VONTADE. NÃO ADIANTE PEDIR AO PACIENTE QUE REAJA
Após o início do tratamento existem 02 momentos onde o auxílio da família e a confiança nas orientações médicas podem definir o sucesso do tratamento.
1º MOMENTO
INICIANDO O ANTIDEPRESSIVO
- No início do tratamento e enquanto não ocorre à melhora pode ocorrer uma piora transitória dos sintomas da depressão.
- Todos os medicamentos têm efeitos colaterais, na maioria das vezes não há razão para trocar o remédio. Na dúvida, consultem o médico.
- Existe um tempo de latência para o início do efeito antidepressivo. Em geral, entre o início do remédio e a melhora clínica podem se passar entre 4 e 8 semanas.
2º MOMENTO
APÓS A MELHORA E O DESAPARECIMENTO DOS SINTOMAS DA DEPRESSÃO:
- O remédio deve ser tomado todos os dias.
- Não se deve parar o tratamento.
- A manutenção do tratamento deve ser feita de maneira correcta para evitar uma recaída.
Tratamento de depressãoA Depressão é uma doença que necessita de tratamento com medicamentos anti-depressivos adequados, sendo a psicoterapia por vezes também indicada.
Tratamentos anti-depressivos eficazes começaram a ser desenvolvidos nos anos 50 e nos últimos anos novos anti-depressivos têm sido descobertos ampliando as possibilidades de tratamento, sendo que quando não há boa resposta após a primeira tentativa, outras medicações devem ser usadas. E importante salientar que as melhoras com o uso de anti-depressivos não devem ser esperadas antes de um mês ou mês e meio de uso. O tratamento, na maioria das vezes, é feito em casa, excepções são pacientes que terminantemente se recusam a tomar medicamento, pacientes que apresentam risco de suicídio, ou aqueles que tenham suas condições físicas muito comprometidas, pela falta de alimentação ou por ingestão líquida insuficiente.
ANTIDEPRESSIVO NÃO VICIA, NÃO É BOLINHA, NEM DÁ DEPENDÊNCIA
* Prof. Dr. Táki Athanássios Cordás
- Coordenador do Ambulatório de Bulimia e Transtornos Alimentares (AMBULIM) do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.
- Médico Supervisor e Chefe de Enfermaria do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.
- Professor e orientador da pós-graduação do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.
* Prof. Dr. Ricardo Albedo Moreno
- Doutor em Medicina pelo Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. - Fundador e Coordenador do Grupo de Doenças Afectivas (GRUDA) e - Chefe da Coordenadoria de Atendimentos Especializados do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.
- Professor e orientador do Departamento de Psiquiatria e da pós-graduação em Ciências, área de Fisiopatologia Experimental da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.
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Táki Athanássios Cordas
Ricardo Albedo Moreno
Artigo do site
http://www.mundomulher.com.br/